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JOAQUIM VITAL

JOAQUIM VITAL

 

Y va de obituario:

"Morreu Joaquim Vital"

Joaquim Vital

Né à Lisbonne en octobre 1948, emprisonné sous Salazar à seize ans, exilé à Bruxelles à dix-huit, Joaquim Vital habitait Paris depuis 1973.
Fondateur, en 1976, des Éditions de la Différence, il y a fait paraître, en 1996, Vingt ans, bilan sans perspective, anthologie « parfois arbitraire » des textes et des images édités, non sans mal, pendant quatre lustres. En 2000, il a publié un recueil de poèmes, Un qui aboie, en 2004, Adieu à quelques personnages et, en 2008, La Vie et le reste.
Il a aussi traduit en français de nombreux auteurs portugais : Sophia de Mello Breyner, Vasco Graça Moura, Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Raul Brandão, Urbano Tavares Rodrigues, Isabel Fraga.

Il est mort à Lisbonne, le 7 mai.

"UM ESTRANGEIRADO

A minha primeira recordaçao, muito nítida, data do 25 de Outubro de 1951, dia dos meus três anos. Na véspera, já deitado, tinha ouvido barulhos de loiça na cozinha: minha mãe vigiava a cozedura da aletria e do arroz doce, fazia bolos, cortava às fatias um grande presunto, um paio e uma bola de queijo flamengo. De manhãzinha, sem acordar os meus pais, saltei da cama, atravessei o corredor na ponta dos pés e abri, com uma mão impaciente, a porta da sala de jantar. A mesa, coberta de pratos a abarrotar de iguarias, estava decorada tão faustosamente que teria evocado para mim os esplendores de Versailles... se eu estivesse a par da existência de Luís XIV. Que espectáculo fabuloso! Tal como a maior parte das casas de Lisboa, a nossa estava mal aquecida entre Outubro e Abril, portugueses, espanhóis, italianos e gregos continuam a extasiar-se, tremendo de frio, com a doçura do clima dos seus países respectivos e regressei depressa ao calor dos lençóis. O meu entusiasmo, esse, é que tão cedo não iria esfriar: durante muito tempo pensei que a vida era uma sucessão ininterrupta de alegrias, uma festa perpétua."

http://networkedblogs.com/3IKUz

Joaquim Vital, escritor e editor, e uma das principais vozes da cultura portuguesa em França, criador das Éditions de La Différence, morreu dia 8, aos 62 anos, em Lisboa, vítima de ataque cardíaco. Republicamos aqui a ’autobiografia’ que o editor escreveu para o JL, em 2008, intitulada O estrangeirado. 

http://www.ladifference.fr/joaquim-vital.html

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